Com os dedos na viola, contemplando a lua cheia.

Meia noite à varanda. Um cigarro, um cálice de vinho.
- cálice é uma palavra tão feia.

Algumas poucas pessoas pelas ruas. Sozinhas, pouco agasalhadas. A vista para o prédio histórico da UFPR, as araucárias me acompanhando, compondo a praça.

Há pouco mais de um ano estaria à janela do hotel. Tentaríamos ver as horas e a temperatura impressos no relógio do prédio do Itaú. Eu não enxergava, agora ainda menos. O calor aqui dentro e o frio lá fora umedeciam as janelas.

As pernas, a pele, o cheiro, a respiração, as mãos fortes nos conduziam à noite que raramente se punha ao amanhecer. Muitas idéias trocadas, muito riso, tato.
- Vai amanhecer, passar o horário do café da manhã e eu de novo estarei dormindo. Mimada, meu café corrompe as regras do hotel e chega à minha cama por volta das 11h da manhã.
Você vai chegar e dizer baixinho, mansinho, com um beijo "bom dia, flor do dia". Eu vou tentar sentar para o café e sonolenta de trazer de volta para as cobertas.

Não são lembranaçs minhas, nem saudade. É a cena de um filme que vi muito tempo atrás.
Nada disso é lembrança tua. Me surpreendo que nada disso seja você e que isso hoje não seja mágoa, mas serena ciência.

Nos meus dias me encontro, absolutamente minha e satisfeita.
A ciência hoje é de que todos se forjam, mais ou menos cientes de si, a fim de tentarem ser o que a natureza não os permite.

Olhar para a semana, para o mês que passou, para os dois meses que se foram e o ano cuja lembrança se faz tão distante... é salientar as raras certezas. De que sempre há revolução, e ela se constrói silenciosamente, até o dia em que o caos impõe nova ordem.
Há lembrança da ordem que passou, mas não há ínfima necessidade de retomá-la. E isso firma a nova ordem, a forma como ela se faz legítima, desejada e real.

Não vou agora falar de desejo, do que é ou como pode se figurar.

Quando me readapto à cidade, os dias são de confraternização, junto aos "maus poemas, alucinações e espera". Os amigos companheiros, os companheiros bons amigos. A risada no bar, a festa que não fui preterida por um texto sedutor.
Há sempre um sedutor tomando espaço do outro?

Amanhã deleto tudo isso.
o vinho seca, a cama convida, as pernas se aquecem.

Gosto do fato de você ser o que eu quero
Concreto
Abstrato
Instintivo


O sono chega, me pega pela cintura
e eu permito que ele sussurre na minha nuca...

O mundo observa os indivíduos libertos
E julga, pondera
Na rua deserta

O próprio tesão...



[o último que passou não apagou a luz]

Comentários

Anônimo disse…
Gostei do estilo... alexandrístico.
Larissa Mazaloti disse…
menina que mais parece mulher de tanta intensidade.

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