História de uma antiga estória.

"Seria a perfeição é o bom vício da alma? O que é a saudosista sensação da plenitude que perpetua-se em nosso peito após saborearmos somente com a ponta da lingua o melhor que os nossos sentidos podem provar? O que os sentidos podem provar? Podem provar o limitado, o toque, o cheiro, o gosto. O sublime não pode ser tocado pelos sentidos. O sublime vem quando não o esperamos, quando não é convidado, nem requerido. Sim, quando se faz necessário.

Através dos risos e da partilha de uma vida inteira o rascunho é lapidado em arte final. E a partir desta escultura crescem como crianças os alicerces de necessidades e nobres desejos que somente o sublime pode satisfazer com toda a sua insanidade. E assim o perfeito ergue-se através do simples, estampado no véu antes trajado pela musa.
Através dos filmes repetidos e daquela cena agradável que embriaga o tempo e engana os instantes, nasce o conforto de uma companhia interminável. De uma certeza cuja essência não pode ser descrita sequer pelo essencial -e nem pelo especial-, mas que toma toda a atmosfera que circunda aqueles sopros e risos. O coração batendo forte, sendo guiado pelo ritmo, pela alegria, pelo ritmo, pela alegria, pelo pulso, pela alegria, é sinal de um êxtase que não pode ser contido no peito. A violação dos sentidos e do passível de fazer sentido torna-se essencial para que essa alegria seja incontida, e desta forma, degustada. O jeito com que as mãos se tocam e os rostos se roçam e os olhos fechados se entreolham, como os sorrisos transmutam formas que jamais serão vistas novamente, como sente-se aquele cheiro uma só vez, e mesmo assim este fica impresso até que o êxtase passe.Estes são jestos que jamais serão repetidos ou imitados, e que assim mesmo provocam inveja até em seus donos, e serão repetidos milhares de vezes mais, como a foto que retrata a perfeição de um momento unico, mas não de um unico momento. E desta vem outro retrato, outro momento, outra chance. Outro retrato perfeito, unico. E o sublime repete-se uma, duas, tres, mil vezes, até nos darmos conta de que a fonte não se esgota, pois é sábia o bastante para alimentar-se de seu próprio fruto.

O que é o fruto da perfeição? Digo-lhes, que o fruto da perfeição é o anseio pela saudade, é a sede que não seca a boca. O fruto da perfeição é o desejo insaciável do seu reflexo, das cenas da memória de uma vida, do lar construido pelo seu riso. O fruto da perfeição é a busca pelo espelho de sua construção. É o reflexo passado de uma arte que é lembrada com carinho pelo autor em uma conversa de madrugada com a sua própria obra. É a comparação do rascunho com a arte final, é a certeza de que em seus braços há segurança, e de que os arames e farpas que antes impregnavam ambas as mãos hoje são calos engraçados e desajeitados, motivos de gostosas risadas.
Os sentidos anseiam uns pelos outros. Ao se fazer silêncio, o calor torna-se mais evidente, e ao fazer escuro, as vozes tomam a direção e sentido. O ciclo repete-se,até que o sublime seja requerido e transgrida os valores do silêncio, do escuro e do calor. Seja com uma risada, seja com um abraço, seja com a sensação de que o cobertor ainda não cobre todo o corpo ou que a persiana ainda está entreaberta. Os olhos assumem as lágrimas ao verem vestígios de semelhantes nos olhos de outrém.
Corajosas e confortáveis, escorrem pelo rosto até caírem nas graças de um caloroso sorriso.

A conclusão desta linha fica em aberto, pois ainda há sede. A voz, os sentidos, o sublime, todos eles anseiam mais e mais pelos reflexos da obra prima uma vez construída. A chuva lá fora, as luzes perdidas pela rua e o céu cor de folha envelhecida entram pela janela e encontram um canto do quarto.

Acreditem, no perfeito, há espaço para reflexões também, por mais triviais e dispensáveis que sejam naquele momento. "

Comentários

Larissa Mazaloti disse…
Os sentidos anseiam uns pelos outros. Ao se fazer silêncio, o calor torna-se mais evidente, e ao fazer escuro, as vozes tomam a direção e sentido. O ciclo repete-se,até que o sublime seja requerido e transgrida os valores do silêncio, do escuro e do calor. Seja com uma risada, seja com um abraço, seja com a sensação de que o cobertor ainda não cobre todo o corpo ou que a persiana ainda está entreaberta. Os olhos assumem as lágrimas ao verem vestígios de semelhantes nos olhos de outrém.


não tenho nada pra te dizer.
teu talento é quase insuportável, bichinha.
chili verde disse…
ei, tem aspas
o texto não é meu, bichinha ;)

=**

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