Há horas em que é impossível te conter em mim.

Na verdade, queria o impossível de te pegar uma vez e te dar um cheiro e te pôr no meu peito deitadinho, quente e seguro.


Deixar você ir foi planejar cada segundo. Foi pensar no dormir, no acordar, em comer o que deve, nas tuas reações ao que come, ao que cheira, a quem chega, ao que vai, ao que falta, ao que ouve, ao que não ouve. Ao que não sabe o que é. Nunca deixaria outro alguém fazer isso. Pelo simples fato de que entre falhas e perdas ainda seria eu a ver, a ter a certeza de que o máximo (possível) foi feito.
Foi impossível optar. Acho que é ainda. Existe uma linha tênue e ensurdecedora de loucura entre o que deve ser feito e o que podemos fazer. E eu estava do lado do que podemos fazer. E o que deve não foi uma opção. Foi como pular do prédio em chamas pra te tirar do incêndio. Mas não tinha como, no pulo, colocar você contra o meu peito - e acho que as noites insones eram um pedido desesperado por poder fazer isso. Colocar por um segundo você entre o meu peito e os meus braços pra poder pular. Algumas vezes fecho os olhos como quem tenta sentir o teu cheiro neste um segundo que não pôde existir. E não posso esperar que ele vá chegar, porque não vai. Ninguém acenou, ninguém deu a mão, ninguém pensou em uma saída.
Somos eu e você, e seria.
Imaginei que depois de pular de mim restariam memórias... e o houve foi que eu me perdi no caminho e não entendo muito bem o que passara até ali. (Não) é o mesmo corpo, as mesmas roupas, quase o mesmo cotidiano e o que eu faço é segui-lo de forma saudável.

Sinto uma falta tua que é impossível definir... talvez eu ceda um pouco à loucura ou à saudade quando me pego tendo cuidados pra subir, pra exercitar, pra comer o certo, pra não correr riscos de ter perder. Pra me adaptar a todas as mudanças que eram tuas e ter amor nelas. Era loucura antes. Talvez agora seja um desabafo. Ou um segundo em que afrouxo o fio de lucidez pra descansar os nervos.
Quando me pego feliz porque alguma coisa deu certo é porque é o melhor pra nós. Mas não tem nós. Ou quando vejo que deu certo é porque está aqui - o mais perto do melhor pra nós. Mas, não tem nós.

Mentira. Porque não é verdade que você não chegou. Chegou, e foi pelos planos que eu fiz que eu deixei você ir. Vejo as roupas, os xampus, os cuidados e sei o que era o certo pra ti. Chegou como uma certeza absoluta e não demorou nada pra eu entender isso e conviver contigo. E mudou tudo, todos os dias os meus planos são orientados por ti. E eu penso se não seria assim, tudo certo e você aqui, esperando a hora pra conhecer o mundo.

mas com você eu não podia correr riscos, era o certo, ou o certo.
O único seguro era pular.


fecho os olhos e ponho você no meu peito. ou me encolho o corpo e fecho você em mim.

mas há um vazio enorme...




vai passar...

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